
Homenagem e memória das histórias das pessoas que passaram pela tragédia de Brumadinho, cidade vítima de um crime ambiental ocorrido no dia 25.01.2019.
EDITORIAL
Focados em realizar ações sociais, o coletivo SP Invisível, em específico o jornalista e fotógrafo André Soler, atento para a pauta política do país foi até a cidade de Brumadinho para contar a história das pessoas que estavam vivendo um verdadeiro cenário de guerra após a cidade ter sido vítima de um crime ambiental.
Ao chegar lá o fotógrafo começou seu processo de revelar as pessoas, dar visibilidade a elas, a partir de suas histórias. A partir da sua longa experiência com a documentação das histórias de moradores de rua, André consegue se inserir na comunidade e revelar histórias de verdade.
Movidas pela fé as pessoas demonstram um forte senso de comunidade e colaboração. O abraço é um símbolo para o que ele vive lá. O acolhimento e a empatia desenvolvida lá.
O material gerado lá fará parte de uma exposição que André irá realizar nos dias 22 e 23 de fevereiro de 2019 no estúdio do ATRAVES\\. A ideia é transportar as pessoas para Brumadinho atraves de fotos, instalações,sensações e histórias.
Produzir e preservar a memória das histórias e da tragédia para expor essa situação de guerra que existe e lembrar das pessoas para passaram por isso.
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EQUIPE
A equipe de documentação e criação de material para a exposição é liderada pelo jornalista André Soler. A film maker Vic Von Poser faz uma função dupla, além de ser responsável pela documentação do processo criativo do André, ela também acompanha o jornalista até a cidade de Brumadinho produz a vídeo instalação da exposição e o mini-doc sobre o projeto.
As pessoas da cidade e suas histórias, acima da tragédia, são o objeto de observação do jornalista. O objetivo é criar memória dessas histórias a partir de fotos e textos na plataforma do SP Invisível, coletivo do qual André é um dos fundadores. O resultado dessa documentação irá fazer parte da exposição QUANTO VALE UMA HISTÓRIA? que André está produzindo no estúdio do ATRAVES\\.
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Quando André entrou contato com a gente, ele já havia estado em Brumadinho, onde colheu histórias e levantou uma campanha crowdfunding para adquirir uma cadeira de rodas elétrica para uma pessoa da cidade que estava passando necessidade.
Depois de conversar longamente no estúdio para pensar como poderíamos dar continuidade nesse material de memória gerado, André decidiu pegar a nossa documentarista, Vic Von Poser, e leva-la com ele para Brumadinho novamente.
Os dois embarcam em uma viagem de 3 dias para a cidade, onde entregam a cadeira elétrica conseguida no crowdfunding e registram mais histórias e o cenário de guerra em que se encontra a localidade.
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Com o retorno da dupla para São Paulo, em 11.02.19 nos reunimos novamente no estúdio, com o material de registro feito em Brumadinho e começamos o concept da exposição. André quer que as pessoas que gostariam de estar lá para ajudar, para acolher e não podem fazer isso pelas questões que nossa vida moderna e dificuldades de locomoção no Brasil trazem, consigam fazer isso com a exposição. A intenção é transportar as pessoas para lá.
Para fazer isso, a exposição tem duas peças chaves. O carácter sensorial imersivo e a apresentação das histórias. Um plano é traçado e a produção se inicia com testes de uso do espaço e contatos para viabilizar a impressão e instalação. Mais uma vez a empatia e colaboração aparecem devido a força da causa que estamos falando.
O também fotógrafo e especialista em impressão Fine Art, Rafael Define se prontifica a ajudar e participar do projeto cedendo seu tempo e expertise para a edição do conteúdo e produzirmos a impressão das fotos.
A exposição ficou durante 4 dias no estúdio do ATRAVES\\ e recebeu centenas de pessoas. As 10 obras ficaram expostas acompanhadas de uma caixa de som com a história da foto contada pelo próprio personagem e um qrocde com o link para a história escrita. Dentro do espaço também tinha uma projeção com imagens captadas em Brumadinho, mostrando o entorno e imagens da cidade e uma instalação suspensa imitava um corpo sendo levado pelos helicópteros, cena que se tornou comum na cidade.
Com a tragédia a água na cidade se tornou um recurso escasso. Uma caixa d’água com garrafas fica no centro da cidade, com água fornecida por doações. No lounge da exposição colocamos uma caixa d’água igual, além do documentário criado pela Vic que ficou passando em loop durante todo o período.
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Relato da diretora Vic Von Poser sobre o processo.
Sem dúvida, o ato de acompanhar e registrar o processo criativo de um artista envolve também um olhar interno, observando e questionando nossas próprias escolhas e processos. A percepção de quando esses dois processos se cruzam ou se afastam é tão rica para o crescimento artístico quanto para o nosso processo pessoal de auto-conhecimento.
Quando entrei no projeto, achei que faria um trabalho mais observacional, questionador, com uma certa distância. Porém, ao aceitar o repentino convite do fotógrafo André Soler para acompanhá-lo em sua segunda ida a Brumadinho (mais especificamente ao Córrego do Feijão), fui aos poucos me aproximando e construindo uma proximidade e identificação como o lugar, com as pessoas e com toda a situação intensa do momento. Eu tive também a oportunidade de acompanhar o processo do André na realização das fotos e das histórias, vendo de perto como ele escolhe suas personagens, faz as perguntas e constrói uma relação de intimidade com as pessoas desconhecidas. Com isso tomei uma postura ainda mais indagativa e questionadora dos seus passos, processos e principalmente, intenções.
A palavra ‘intimidade’ é muito presente no discurso do André ao falar de seu processo recolhendo as histórias, com a tentativa de obter respostas menos institucionais sobre seu trabalho e registrar a verdade de seu processo, em perguntas mais abstratas e íntimas. “O que você está sentindo agora?” foi uma das perguntas mais frequentes em todo nosso processo, pois fazia com a pessoa entrevistada parasse de pensar no futuro, nas tarefas seguintes ou nas dúvidas cotidianas, trazendo-a para o momento presente, para um contato direto e profundo com as suas emoções. Em alguns momentos fiz para ele algumas das próprias perguntas que ele utiliza em suas entrevistas como : ‘qual o seu sonho?’ , ‘qual o seu medo ?’ , ‘o que vc gostaria que eu tivesse te perguntado que eu não perguntei ?’. Acho que de algum modo eu transformei o André em um dos seus personagens e pedi para que ele dividisse a sua história comigo, o que o tornou especial, aproximando-o mais ainda de seus personagens. Tecnicamente optei também por fazer planos mais fechados, e closes para que o espectador se sinta mais próximo e imerso nessa história.
Durante as intensas semanas dessa COLAB eu tentei ficar com ele e registrar a maior quantidade de tempo possível, acompanhando cada passo. Com isso, tivemos muitas conversas profundas, sobre religião, fé, medos profundos, o constante uso das redes sociais e a busca de uma maturidade artística. Mesmo que esses assuntos não tenham entrado diretamente nos vídeos produzidos, acredito que foram muito importantes para o processo fazendo com que ele refletisse, elaborasse e questionasse cada um dos seus passos. Às vezes só o fato de afirmar algo em voz alta já é o início do questionamento pessoal dessa afirmação, e para mim esses momentos de completa confusão e questionamentos são os mais valiosos, são nesses momentos que construímos o que é verdadeiro para nós.
Sem dúvida, qualquer processo criativo passa por um momento de confusão e dor. Acredito que isso se intensificou ao trabalhamos com uma situação tão triste e densa quanto a do acontecido em Brumadinho. Tenho que admitir que os primeiros dias lá fique muito confusa do que estava fazendo, fiquei com muito medo de produzir algo que passasse uma imagem errada ou exploratória do acontecido. E foi só com o passar do tempo e com uma certa distância que entendi o vídeo que estava fazendo, um vídeo que registrasse o processo do André mas que também respeitosamente homenageia as pessoas, a calamidade, e ajudasse a construir a memória dessa tragédia para que não eventos assim não se repitam mais.
No final, além de ajudar o André e a equipe na montagem da exposição eu produzi 3 vídeos para essa COLAB.
O primeiro vídeo foi focado especificamente no trabalho do André em Brumadinho, a escolha de deixá-lo preto e branco foi para de uma certa forma homenagear as vítimas, mostrar que esse crime ambiental tirou a cor daquela pequena cidade e também destacar as histórias através das feitos do André. O processo de realização da exposição foi dividido em 2 vídeos, o primeiro mostrando a escolha das fotos e o processo de impressão junto com o fotógrafo e artista Rafael Define e o segundo sobre as histórias, a montagem da exposição e a construção dessa narrativa dentro do estúdio do ATRAVES\\.
Acredito que esse tipo de registro é muito importante não apenas para o próprio artista conseguir ver a sua arte através dos olhos do outro, mas também para desmistificar o fazer artístico e mostrar as etapas e questionamentos envolvidos na montagem de uma exposição.
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ENTREVISTAS E PROCESSO CRIATIVO
O Documentário e registro de processo criativo da COLAB#20. Esses vídeos fazem parte das nossas séries episódicas – ATRA\\FLIX e DOC_CULT.
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