.: O CORPO SEM ÓRGÃOS :.
Quais as extensões, afetos, automatizações e possibilidades de um corpo?
Durante quatro semanas a multi-artista Luanna Jimenes destrincha nuances que circundam a figura do CORPO para compor sua próxima série de performances.
Partindo de diversas leituras, como a simbologia corporal judaico-cristã, o entendimento deleuziano do corpo sem órgãos e as inumeráveis variações raciais e culturais constitutivas do nosso povo, Luanna divide o processo criativo de sua próxima série performática.
03.08 a 07.08
_PARCEIROS CRIATIVOS_
Luanna adentra o espaço, convida os parceiros criativos e começa o ensaio de seus programas performáticos com a leitura do texto: Lições de Ascensão ou Instruções para uma Verticalidade.
07.08 a 13.08
ESTUDOS CROMÁTICOS
Enquanto não esposarmos a totalidade de nós mesmos; recobrando a autonomia sobre nossos próprios corpos e potencialidades físicas para além das automatizações sociais – a mão que aperta o parafuso, o pé que anda em fila, a cabeça que assente quase que sem perceber -, continuaremos mancos.
Numa tentativa de sair da condição de manca, como qualquer outro indivíduo pós-moderno – cujo corpo é por definição e anatomicamente uma prisão, Luanna Jimenes lê. Modula a voz. Sente. Na fala e no corpo. Desconstroi, para então poder reconstruir, re-ordernar: o pé é agora germe, broto de vida; a mão, receptáculo do fruto mais desejado; a cabeça, eixo central que conduz a uma nova abordagem dos limites físicos de seu “eu” para com tudo o que há.
Em cada parte de sua série Lições de Ascensão ou Instruções para uma Verticalidade Luanna desenvolve uma nova concepção de uso de cada parte do corpo físico.
PLEXO UROGENITAL
Descascar um abacaxi, preparar e tomar um suco de couve e chupar uma manga até o caroço são ações que, para além de relacionarem-se com o dia-a-dia da performer, também podem ser lidas como movimentos re-territorializados.
O momento marca uma virada em seu processo criativo. Inicialmente, a artista buscou leituras e teorias para fundamentar suas intenções e campo de estudo. A leitura judaico-cristã que identifica certas extremidades do corpo (pés, orelhas e rins) como partes consoantes ao broto do feijão. O Germe; deu lugar a uma novo ponto de partida para as performances do Tríptico de Frutas – Plexo Urogenital: ao invés de uma visão externa, a sua própria experiência individual como prerrogativa.
Retirar ações cotidianas de um contexto puramente casual para refazê-las em um ambiente de estudo e aprofundamento nas potencialidades dos signos corporais é, antes de tudo, um discurso que identifica no plexo urogenital três qualidades:
- a força necessária para manipular uma faca
- o prazer sentido ao chupar uma fruta
- por tomar um líquido amargo – o suco de couve sem tempero, a relação plexo-paladar não como fonte de prazer, mas como canal que nutre profundamente as vísceras do corpo.
Reconhecer em um conjunto de órgãos – não estabelecido socialmente, mas entendido com o corpo – tamanha magnitude é o que Deleuze propõe quando nos impele a destruir o “eu maior” e deixar a racionalização extrema de lado para, enfim, poder sentir. O desejo que vem de dentro e não de fora. Liberdade maior não há.
O corpo como assunto e ferramenta para esbarrar em sombras, materializar sonhos e desautomatizar desejos.
Luanna compila o texto dramatúrgico, se reúne com os parceiros criativos, Laura Carvalho e Lucas Rampazzo e faz um primeiro ensaio duplo com Lucas.
Convidamos o jornalista Daniel Benevides que se compromete a fazer o texto final da obra, trazendo notícias do mundo para dentro da performance.
Luanna sintetiza o que está sentindo e achando da construção de seu trabalho sendo observado pelo mundo.
14.08 a 20.08
_CONCEPT FINAL
Luanna faz a leitura performática díptica do texto de Daniel Benevides: Juno está próxima de Júpiter.
Luanna experimenta o espaço e mais uma vez reage performaticamente ao texto Juno está próximo de Júpiter.
RISCANDO O ESPAÇO
Luanna, Lucas e Laura discutem a montagem da estrutura cênica para a performance.
Sem planejar, o texto de Daniel Benevides, “Juno está próxima de Júpiter”, condensou pensamentos e intenções de realização de todos os participantes. A feliz coincidência traz outros pontos de intersecção possíveis entre as 3 frentes artísticas e decidem mudar a solução cenográfica e partem para um estudo com tecidos e a projeção de Lucas ao fundo.
Os cenotécnicos Diego Dac e Sauro Santos visitam o espaço para verificar a viabilidade do novo projeto cenográfico e planejam a instalação junto com Luanna Jimenes e a produção do ATRAVES\\.
Luanna Jimenes conversa com a figurinista Sara Teitelbaum sobre o figurino que está criando para sua performance.
Luanna trabalha sobre as projeções e trilha de Lucas Rampazzo para compor a performance final.
Laura, com ajuda dos cenotécnicos Diego Dac, Sauro Santos e a equipe do ATRAVES\\, finaliza a montagem do cenário.
O grande dia finalmente chega: gravar a performance audiovisual que Luanna preparou incansavelmente durante todo o mês de agosto no estúdio do ATRAVES\\.
A câmera ao vivo e as câmeras de Luccas Rampazzo registram a primeira vez da performance final.
21.08 a 27.08
_JÚPITER, A FLORESTA E O ESPELHO
Uma performance em 3 atos
Com a presença de convidados Luanna faz uma apresentação para convidados no estúdio.
ato I – FLORESTA
No carro abafado de seus pais, o menino se entedia. Yamato Tanooka, de sete anos, olha pela janela. Estão em algum ponto de Hokkaido, ilha ao norte do Japão. Ele quer fazer parte do que vê. Quer sair de dentro, explorar o redor. Mexe nos bolsos. Encontra um punhado de pedras. Minúsculos asteroides. Aperta o botão, o vidro desce.
A curiosidade é despertada pelo campo magnético dos outros carros que passam. Cores, luzes, ruídos. Carros e pessoas. Atira as pedras. Elas partem em curvas elegantes e batem nos metais das portas, na cara dos passantes. Yamato sonda a reação. Qualquer reação. Insiste. Insiste até se dar conta de que uma explosão maior se aproxima. É seu pai. Ele o abandona na beira da estrada, na beira de um universo desconhecido. Um castigo, senão divino, de enormes proporções.
ato II – JUPITER
Juno está próxima de Júpiter.
E bem longe da Terra – cerca de 800 milhões de quilômetros. A sonda espacial entrou na órbita do gigante gasoso no dia 4 de julho. Chegou a 4.500 quilômetros das primeiras nuvens do que parece ser uma atmosfera de enormes proporções, viajando a 250 mil quilômetros por hora. Não se sabe o que existe além das faixas coloridas que envolvem o maior e mais antigo planeta do sistema solar. Pode ser um núcleo rochoso ou uma massa compacta de gases.
Pode ser um feto, de tamanho mitológico.
Não se sabe, tampouco, o que é aquela mancha vermelha em sua face, que mais parece o olho de uma tempestade permanente.
Juno dará trinta voltas em Júpiter, durante 20 meses. Um ritual de acasalamento. Juno veste um cinto de castidade para proteger seus equipamentos. Um cofre de titânio. 200 quilos. O poder magnético de Júpiter é extremamente forte. Atrai e acelera partículas de alta energia, que vêm do Sol. Pode destruí-la antes que ela colete os dados sobre a origem do astro. Sobre sua formação. Sobre a possibilidade de vida em uma de suas luas, Europa, onde há água. Pois há pouca água em Júpiter.
ato III – O ESPELHO
Quando encontrado, dois quilos mais magro, Yamato está olhando para cima, por uma brecha no telhado tosco. Olha para algum ponto a milhões de quilômetros dali. Talvez, por alguma razão que a razão desconhece, consiga ver Juno, em sua trajetória até Júpiter.
Juno, a suicida.
ENTREVISTAS FINAIS_
O designer Lucas Rampazzo acredita que a limitação é essencial para qualquer criação artística. Confira o vídeo e entenda porquê!
A pesquisadora de cores e diretora de arte Laura Carvalho fala sobre seu processo.
Durante o tempo em que esteve imersa no estúdio do ATRAVES\\, Luanna Jimenes desenvolveu nada menos do que 18 performances. Confira o seu depoimento sobre a experiência de estar sendo observada a todo instante e o que sentiu ao ver suas performances materializadas.
CRÉDITOS
Direção
LUANNA JIMENES
JU BORGES
Texto da Performance
DANIEL BENEVIDES
Direção de Arte da Performance
LAURA CARVALHO
Trilha e sonoplastia Performance
LUCAS RAMPAZZO
Artístico
DEMIAN GRULL
Cenotécnicos
HUGO DOURADO
DIEGO DAC
SAURO SANTOS
Ass. de Direção e Câmera
BRUNO PINHEIRO
Redatora Processo Criativo
MARIE CABIANCA
Direção de Arte Processo Criativo
CAROL RODRIGUES
Produção
ALESSANDRA CIPOLLETTA
Pós-produção e montagem
FABIANO IWASITA
BRUNO PINHEIRO
Produção Executiva
DEMIAN GRULL
eu quero mais
Enquanto os artistas ocupam o espaço a redação fica atenta para referências que são citadas e pesquisa sobre o tema abordado. O resultado dessa pesquisa fica documentado em forma de posts que chamamos de re-inspirações.