ONDA#17
LÍQUIDO: INCERTEZA

A partir da teoria da liquidez pós-moderna criada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, propomos processos criativos para sete diferentes artistas, indo do alagado à escassez da incerteza em relação ao futuro.

EDITORIAL

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em seus mais de 50 livros, despertou a atenção para a era em que vivemos. A era da liquidez é marcada pela dissolução de uma era sólida, quando obedecíamos regras sociais rígidas, ou pouco móveis, e o homem já nascia conhecendo o seu próprio destino.
O mundo líquido é o mundo das múltiplas possibilidades e das relações efêmeras. Relacionamentos inconstantes, empregos temporários e deslocamentos contínuos. Uma era marcada pela liberdade de viajar com poucas bagagens (família, religião, cultura…) mas também pelas incertezas: Vivemos uma transição uma nova ordem das coisas.
Na ONDA#17, nossa proposta é explorar a metáfora da água em toda a sua complexidade, como elemento transformador que pode tanto destruir, como também manter vivo. Para dar corpo à essa reflexão, montaremos em nosso estúdio um espelho de água para receber nossos artistas convidados que, em suas diferentes disciplinas, devem produzir utilizando o elemento.
A incerteza do esgotamento dos recursos hídricos no planeta é nossa linha narrativa: iremos do muito ao pouco, do cheio ao vazio e ao que acontece quando se tem que reinventar o elemento essencial para a vida.
Além de registrar os processos criativos, esperamos encontrar respostas para uma era de incertezas na inerente e contraditória capacidade da arte em ser provocadora de questões e também definitiva em sua própria beleza e tentar entender para onde, e se, está se solidificando a nova sociedade.

[topo]

ANAISA FRANCO

O primeiro movimento da ONDA#17  já mostrou o poder do incerto. A artista Anaisa Franco vem ao ATRAVES\\ fazer um projeto holográfico, mas etéreo. Uma coluna de água que materializa, atraves de projeções, uma imagem improvável. Um ser de luz que se molda ao líquido a partir da tecnologia.

E a tecnologia já nos mostra nossas limitações. A gentil artista propõe fazer um protótipo dentro do ATRAVES\\. Algo menor, de mais baixo custo e rápida execução. Ela tenta também trazer outros ingredientes, como a fumaça, para colaborar com sua invenção.

Foi interessante ver como um artista se propõe a participar de movimentos de criação, mesmo quando sua zona de conforto se desfaz sob seus pés. Foi o caso da Anaisa, que teve que trazer seu universo tecnológico para o nosso tanque de água. Água não combina com eletrônica mas, mesmo assim, tudo correu tão bem que o resultado pode ser observado durante o fim de semana seguinte.

Seu ser de luz é liquido e busca existir em sua relação com a água. Sem ela, o ser não acontece. Uma metáfora ideal para o ser humano na nossa era e nada mais apropriado para começarmos nossa onda.

[topo]

MARCOS BRUVIC

O fotógrafo Marcos Bruvic trouxe uma arte participativa e democrática. Seu insight extremamente pessoal e cheio de conceito vira uma plataforma para interação com o público convidado.

A ideia é usar a distorção feita pela água para gerar uma analogia à natureza da memória. Pessoas fazendo auto retratos através de um plano distorcido por água.

Parece complicado, mas o que acontece é uma série de momentos pessoais e divertidos, criativos e engajantes. As pessoas entram para fazer uma selfie e descobrem um espaço com recursos para que essa selfie seja diferente de todas que já fizeram. A princípio entram tímidas, mas logo estão com o controle remoto na mão abusando da linguagem do Marcos e se apropriando do conceito.

Foi fantástico ver a interação que isso gerou. Marolas mil saindo dessa onda, que transbordou de criatividade com cada um dos participantes que toparam tirar os calçados, subir a boca das calças e entrar nas águas do ATRAVES\\, literalmente falando.

Amnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de TiAmnésia Lembrarei de Ti

[topo]

PARSIYAM

PARSIYAM: do wolof, língua falada na África Ocidental, principalmente no Senegal: passar sobre as águas.

Outros mares chegam ao ATRAVES\\ e a ONDA#17 – LÍQUIDO trouxe o encontro entre uma mineira, Ana Maíra Favacho, uma francesa, Camille Bonnenfant, e um senegalês, Khadim Ndiaye, e também o encontro dos seus corpos líquidos com as águas do estúdio.

Logo na chegada, o trio de dançarinos lava as águas do estúdio com 3 delicados copos. Camille traz água de cachoeira da Chapada dos Veadeiros, Khadim traz a água do mar brasileiro e Ana Maíra traz água de cachoeira de Minas Gerais. Assim, esses corpos pedem licença e o que se vê logo em seguida é catarse. Eles viveram toda experiência que as nossas águas podem dar.

A construção de uma narrativa foi muito influenciada pelo espaço e as escolhas de arte. Ficamos muito felizes com o resultado visual e conceitual. Nós preparamos fotos com flashes de alta velocidade, porém as águas nos mostraram que não é bem assim: o volume de líquido necessária teria que ser bem maior. Segue o barco.

No final, pudemos ver uma representação pura e contundente da fluidez das relações entre os corpos. Pudemos ver o quão parecidos com a água somos. Pudemos ver a beleza do movimento humano quando este se torna líquido e pronto para assumir muitas formas.

[topo]

HENRIQUE RAUCCI

O Henrique foi um desses bons encontros que essa correnteza forte trouxe para o ATRAVES\\. Fotógrafo, psicólogo e curioso pela vida, pela forma como as coisas funcionam, misturando, sem pudor, arte e ciência. Foi isso que ele trouxe para nós.

Como um cientista, pronto para um experimento e conhecedor expert de suas ferramentas e procedimentos. Como artista que busca uma forma além da função. Foi muito rápido, mas foi o suficiente. Deu pra entender a busca, a dificuldade e todas as possibilidades para um futuro. Foi uma experiência com direito até mesmo ao visual de ficção dos anos 60.

[topo]

RONY KOREN E RICARDO MONASTERO

Que legal é a incerteza.

O Rony foi convidado com uma das referências mais concretas propostas para a ONDA: uma cena de um filme que traz nostalgia, em que há o escorrer da água pelas mãos.

Ele recebeu e voltou com algo mais interessante e criativo. Depois voltou e mudou tudo de novo. De fato pudemos ver o processo criativo dele desde que começou a pensar na proposta até quando elegeu o caminho que seguiria, mudando até mesmo seus parceiros criativos.

Ele veio forte, fazendo uma proposta ambiciosa: fazer um curta metragem em 3 dias. Rony trouxe o roteiro já escrito, fruto desses dias de criação. Levamos um pequeno susto, mas dissemos “Um curta?! Muito bem”.

O tema é muito bom: “Até quando vamos deixar tudo para os 48 do segundo tempo?”. Em um mundo sem água potável, uma reflexão sobre o milagre. Contamos com atores muito bons: Rony Koren e o Ricardo Monastero são apaixonados pelo que fazem.

Tivemos uma equipe dedicada que tornou possível: Fizemos um filme em um instante, ao que me pareceu. Mais uma incerteza que passa por essa onda.

[topo]

ANDREA LAYBAUER

Em um ATRAVES\\ já seco, com a água vindo de gota a gota, chega a Andrea Laybauer para, literalmente, dar uma aula.

Sua arte, de impacto direto e fácil leitura, é impactante. Nem por isso ela se incomoda em dividir seus segredos com os demais. Durante uma tarde, tivemos o prazer de acompanhar um processo que levou muito tempo pra ser afinado, podendo ser aplicado como se fosse simples.

Valeu Andrea!

[topo]

THE RADIO DROIDS

Os Droids compraram a ideia e isso foi muito bom!

Nem sempre o artista se inspira pela provocação que fazemos de maneira direta. No caso deles, porém, o convite casou perfeitamente com uma vontade deles. O duo fez, dentro do estúdio, um set de bateria só com sons de gotas.

O mais legal é que não mudaram em nada o som delas. Foram testando até encontrar a gota que soasse como o instrumento que buscavam. Prato, caixa, chimbal. Com essa bateria, vestiram uma música deles chamada Liquid Sky, referência ao filme dos 80 e totalmente dentro do espírito da ONDA#18.

[topo]

FÓRUM

Concluímos a ONDA#17 com um fórum de discussão contando com a participação do futurólogo Peter Kronstrøn, da arquiteta Marussia Whately e do professor Vicente Castro. Eles debateram a escassez dos recursos naturais, em específico a água, e como isso impacta a sociedade de hoje e de amanhã.

“Bauman se dedicou ao conceito de Retrotopia: nós tememos o futuros, em uma relação radical de distorção do passado, valorizando-o através de uma visão idealizada a partir de fragmentos, assim surgem discursos nacionalistas e fascistas na atualidade.”

Vicente Castro

“Não existe um futuro sólido. Se alguém fala com certeza sobre o futuro, acende-se um alerta vermelho. Temos que levantar hipóteses. Hoje o futuro é muito diferente do futuro do ontem. O amanhã pode ser feliz, mas o futuro pode ser também o nosso fim.”

Peter Kronstrøn

“O nosso modo de produção e consumo depende da água. Todos os modos de gerar energia depende da água. Essa relação tem que superar a noção do indivíduo e avançar as grandes escalas, como a indústria.”

Marussia Whately

[topo]

CONVIDADOS

MARUSSIA WHATELY
arquiteta leia mais
VICENTE CASTRO
professor leia mais
GUSTAVO GARBATO
editor de som leia mais
RICARDO MONASTERO
HENRIQUE RAUCCI
fotografo leia mais
ANDREA LAYBAUER
fotografa leia mais
PETER KRONSTRØM
futurólogo leia mais
KHADIM NDIAYE
dança leia mais
ANA MAÍRA FAVACHO
dança leia mais
CAMILLE BONNENFANT
dança leia mais
RONY KOREN
THE RADIO DROIDS
banda leia mais
MARCOS BRUVIC
diretor de fotografia leia mais
ANAISA FRANCO
artista multimídia leia mais
MODELO
confecção leia mais
RAFAEL DEFINE
fotógrafo leia mais

[topo]

RE-INPIRAÇÕES

No Post found

[topo]